domingo, 22 de novembro de 2009

Mudanças Sociais nas telas dos cinemas


Paula Reis*
Simone Neves*

A partir das observações de Nestor Canclini em Consumidores e Cidadãos mudanças ocorridas no comportamento da sociedade em relação à diminuição da freqüência de pessoas aos cinemas em face do grande número de filmes assistidos em casa, considerando-se em nossa análise os diversos fatores que ocasionam essa mudança em especial a “democratização” do acesso à televisão e o home theater.
O consumo é um ato de extrema importância na vida das pessoas, pois provoca impacto e transformações, desde os produtos e serviços que são oferecidos a sociedade, até a geração de custos para quem consome e se beneficia dos bens derivados dele, observando-se aí diversas metamorfoses geradas neste processo de oferta, procura, necessidade e aquisição.
Um dos instrumentos de bem-estar é o consumismo, mas é preciso aprender a produzir e utilizá-lo de forma diferente da atual, visto que atualmente a consumação contribui para aprofundar aspectos da desigualdade social, fazendo com que os cidadãos cheguem a definir seus lugares de pertencimento e direitos adquiridos baseados no que possuem.
No âmbito da consumação, os conflitos de classes podem ser observados a partir da desigual participação na estrutura produtiva e também na distribuição e apropriação dos bens. O consumo aparece como instrumento que identifica os indivíduos, dando-lhes características que os distinguem e os individualizam.
Isso pode ser observado nas propagandas que induzem pessoas a se tornarem consumidores de um produto conferindo a ela um status através desta aquisição e ao mesmo tempo causando uma exclusão àqueles que não têm condições financeiras de fazer parte deste grupo integrado por valores sociais e econômicos.
O avanço tecnológico pode ser observado na modernização dos aparelhos de televisão, mostrando-se claro com a criação das TVs de plasma, que foram criadas em 1964 na universidade de Illinois, por Donald L. Bitzer e Gene SlottowH. E com o surgimento do home theater, um invento que foi originado na década de 70 com o surgimento dos videocassetes e amplificadores específicos que eram vulgarmente chamados de “receptores”. Hoje o home theater é responsável pela aceitação de novos produtos e tecnologias, é nele que é iniciada a comercialização de mídias ou médias como o DVD.
Os confortos obtidos com os avanços tecnológicos juntamente com o alto preço das entradas de cinema são alguns fatores que têm contribuído para o afastamento das pessoas das salas de cinema. Essas duas práticas proporcionam interação social e preservação da cultura, mas de formas diferentes. No caso do cinema, o número de pessoas que se integram é maior e os produto oferecidos são programados antecipadamente ao contrário do cinema em casa, onde o cliente escolhe o filme que quer ver e a quantidade de espectadores é reduzida.
Com o lançamento de equipamentos mais acessíveis e sofisticados, houve um aumento de usuários e consumidores interessados em qualidade de imagem e som , desta forma o cidadão começa a ficar mais exigente e observador dos aspectos que tornam o ato de assistir filmes em casa tão interessantes quanto a ida a salas de cinemas.
A prática do cinema em casa com todo esse conforto é recente, pois até o ano passado era dificil encontrar alternativas acessíveis a todos os tipos de consumidores, mas, empresas de eletrodomésticos percebendo o interesse das pessoas e observando ali uma grande oportunidade de lucros, facilitaram a aquisição das TVs de plasma e dos home theater diminuindo os preços e oferecendo parcelamentos aparentemente vantajosos.
As salas de cinema foram criadas em 1905. Segundo Canclini, as características e contribuições trazidas com essa criação foram: um senso de solidão e de ritualidade coletiva, aprendeu-se a ser espectador de cinema, a ir periodicamente às salas escuras, a escolher distância adequada da tela e a desfrutar filmes em solidão ou acompanhado.
A queda de frequência de pessoas as salas de cinema ocasionou na diminuição de salas, mas não implicou no desaparecimento do cinema, demonstrando apenas que a televisão e o vídeo estão mais presentes nas residências.
Outro problema que atinge o cinema são as projeções dos filmes nas telas das televisões, inclusive já se fala que os canais de TVs paguem pela projeção dos filmes e também que os empresários e comerciantes de vídeo contribuam com uma parte do que ganham para o financiamento do cinema.
Cinemas já fecharam as portas em algumas cidades da América Latina, como São Paulo, e pôde-se verificar que em algumas destas cidades mais de 50% dos lares já possuem videocassetes.
Com grande poder de influência, envolvidas por altos investimentos , as novas tecnologias audiovisuais são o espaço cultural onde mais se acentuam as desigualdades e assimetrias entre as sociedades.
No Brasil, medidas como modificações feitas nas estruturas das salas dos cinemas para garantir maior frequência de público já podem ser observadas. Como exemplo, pode-se citar adaptações que ocorrem a seis anos nas salas da Rede Cinemark com o projeto “Festival Internacional de Cinema Infantil” para exibição de 28 filmes infantis, esse festival aconteceu em sete capitais brasileiras, sendo elas: Rio de Janeiro e Niterói, São Paulo e Campinas, Belo Horizonte, Salvador e por último Aracaju.
Existem algumas desvantagens no ato de assistir filmes em casa, como a iluminação do ambiente, os anúncios publicitários que interrompem a apresentaçaõ do filme, a intervenção do telefone e da opinião de outras pessoas da família, mas tudo isso é contrastado pelo baixo valor do aluguel de fitas, segurança do lar, gastos complementares como transporte e comida e outras coisas.
Apesar do vídeo ter se transformado na principal forma de se ver cinema, ainda existem cinéfilos que vão às salas nem que seja uma vez por semana, mas esse fato não é tão animador se levarmos em conta que estas mesmas pessoas alugam a cada quinzena de duas a três fitas.
Assim pode-se correlacionar a diminuição da freqüência a locais de consumo cultural público como o cinema e o recolhimento doméstico das formas dos divertimentos eletrônicos com o decréscimo das formas públicas do exercício de cidadania.
Não se pode afirmar que as salas de projeção sejam relíquias do passado, elas ainda continuam sendo um atrativo para todas as idades e níveis sociais, apesar de terem como maior número de frequentadores os jovens, solteiros e os que têm mais de cinquenta anos.
Uma possível causa da enorme preferência pelo home theater e pela televisão é o fato de que grande parte de seus usuários desconhece a existência de algo que não seja a oferta televisiva e dos videoclubes.

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